”Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras
que o Senhor falara à casa de Israel;
tudo se cumpriu.“ (Js 21.45)
1874,
Na terra fria, arrebenta a semente…
Mais um café? Não! É feita de gente
Em cuj’alma forja-se a fé do Pacto!
Sob hostil olhar – tentaram, de fato,
Minar em Minas “este povo crente”,
Abortar a árvore incipiente –
Avança, em triunfo, o Livro Sagrado!
Eis, um a um, cada fruto alcançado,
Gerando outros. Mais um pecador sente
Plena paz: “Fui salvo! Graça somente!”
A Igreja, não do acaso ou de repente,
No passado [ou no futuro] é presente
150 anos em/a Machado!
Pr. Eduardo Bornelli de Castro
Primeiros passos
No dia 27 de setembro de 1874, por volta das 18 horas, foi organizada a “Igreja Presbyteriana na Freguesia de Santo Antônio de Machado”, termo de Alfenas, Província de Minas Gerais, na residência de Severo Augusto Pereira, com 10 membros, 8 de Machado e 2 de outra Igreja. Nessa preciosa data, algumas pessoas foram batizadas, foi celebrada a Ceia do Senhor; estando presentes o licenciado Miguel Gonçalves Torres, que seria ordenado ministro no ano seguinte, e o, já Pastor, Rev. Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa.
Nos anos seguintes a recém-plantada Igreja era visitada, a cavalo ou a pé, anualmente, pelo Rev. Miguel Gonçalves Torres que, por recomendação médica, a fim de tratar de uma tuberculose pulmonar, residia na cidade de Caldas. O ministro nascera em Portugal e viera para o Brasil ainda criança, converteu-se e foi um dos quatro primeiros pastores formados no Seminário Presbiteriano do Rio de Janeiro, conhecido também como “Seminário Primitivo”. Ele trabalhou ainda como colportor, vendedor itinerante de bíblias e literaturas afins. Após alguns anos, servindo a Deus como Pastor e professor, faleceu em 1892, aos 43 anos.
Amalgamadas ao crescimento orgânico do rebanho, pela evangelização, “houve perseguições violentas naquele lugar”, que desafiavam a perseverança da Igreja: Generoso Messias, um dos membros fundadores, foi proibido de sepultar sua mãe, também protestante, no cemitério da cidade; o que o levou a enterrá-la no jardim de sua própria casa. O “povinho” era constantemente açulado a perseguir os inimigos; em 1881, por exemplo, o Senador Florentino Meira de Vasconcellos, presidente da então Província, narra que na noite de 2 junho, “em Santo Antônio do Machado, um grupo de 200 pessoas, mais ou menos, tentou assaltar as casas dos acathólicos n’aquele arraial. Durante toda noite perturbaram o socego [sic] público, e tal foi o terror, que algumas famílias abandonaram seus domicílios.” Houve ainda alguns episódios de tentativa de entrar no Templo recém-inaugurado, na década de 1960, ou de queimar os novos testamentos distribuídos nas escolas, na década de 1970. Esses tristes obstáculos, contudo, não prosperaram em coagir ou intimidar o avanço da Palavra.
Em 1903, quando da fundação da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, o então Pastor da Igreja de Machado (como de outras comunidades da região), Rev. Caetano Luiz Gomes Nogueira Júnior, estava entre os fundadores. O Rev. Caetaninho, como era chamado, foi também o primeiro moderador do Presbitério Independente e, em 1908, do Sínodo da nova denominação. Assim, no início do século passado, a Igreja de Machado – que arrolara em sua organização a mãe, Maria Eufrosina de Nazaré, e o irmão mais velho, Severo Augusto Pereira, do Rev. Eduardo Carlos Pereira – embora não tendo provocado a cisma, tornou-se uma das comunidades fundadoras.
Ministros da Primeira Igreja
Depois de Carvalhosa e Miguel Torres, o Rev. Caetaninho, residente na cidade de Campestre, foi Pastor desde 1892 até ao seu falecimento, em 1909, então, assumiu o pastorado o Rev. Bellarmin Ferraz. Em 1916, o Rev. Alfredo Rangel Teixeira foi o Pastor; de 1917 a 1924, o Rev. Orlando Ferraz pastoreou a Igreja. Consta que, em 1919, o Rev. Alfredo Borges Teixeira presidiu o Conselho.
De 1925 a 1927, era Pastor o Rev. Thomaz Pinheiro Guimarães; de 1928 a 1932, o Rev. Daniel Damasceno Moraes. No ano seguinte, o Rev. José Antônio de Campos; e, após, por 10 anos, 1934 a 1943, assumiu a comunidade o Rev. José Cruz. Por três anos, 1944 a 1946, pastoreou a Igreja o Rev. João Bernardes da Silva. Entre 1947 e 1952, a Igreja foi pastoreada pelo Rev. Rossini Sales Fernandes, com auxílio de sua piedosa esposa, Yedda Novaes Fernandes. Além de uma passagem frutífera, deixando muita saudade no rebanho, o casal foi responsável pela composição da letra (ele) e da melodia (ela) do Hino Oficial de Machado.
O Rev. Lutero Cintra Damião foi Pastor por 3 anos, de 1952 a 1954, quando assumiu o Rev. Erasmo Stutz, por um ano. Segue-se, em 1956, 1957 e 1960, o Rev. Domingos Bezerra Pais; e o Rev. Silas Silveira, em 1958 e 1959. Então, por 8 anos, de 1961 a 1968, o Rev. Orlando Braidotti. De 1969 a meados de 1970, pastoreou a Igreja o Rev. José Eduardo Bornelli, período em que foi construído e consagrado o salão social ao lado do Templo e as salas do subsolo foram usadas para secretaria e gabinete pastoral.
Depois, por 52 anos, seja presidindo o Conselho (40 anos), seja compondo o colegiado de pastores (13 anos e contando), o ministério do Pr. Isaías Garcia Vieira foi muito frutífero em nossa comunidade. O Rev. Alex Sandro dos Santos foi Pastor por 20 anos, 7 anos servindo na congregação do Jardim das Oliveiras, 6ª Igreja; e 13 anos na sede; assumindo a presidência do Conselho em 2011. No ano de 2023, o Rev. Isaías Garcia Vieira, aos 88 anos, voltou à presidência do Conselho, auxiliado pelos pastores Rev. Daniel Brust, Rev. Marinaldo dos Santos Silva e Rev. Giovani de Ávila Magalhães. Em 2024, o Rev. Sebastião Machado Arruda passou a compor o colegiado de pastores; e o Rev. Eduardo Bornelli de Castro assumiu a presidência do Conselho e a titularidade do pastorado.
Instituições que nasceram na Primeira
Merece destaque a história dos acampamentos; o primeiro foi realizado na Fazenda Serra Negra, no dia 5 de março, carnaval de 1957. A partir de então, adentrando à década de 1960, vários acampamentos tiveram lugar na Fazenda Canaã, Fazenda Alvorada. Com a regularidade dos eventos e evidentes frutos desse ministério, decidiu-se preparar um espaço adequado para os retiros, sonhou-se com o Acampamento Maanaim e iniciou-se a construção em 1972. São incontáveis os testemunhos de conversão! Milhares de vidas foram impactadas, santificadas e desafiadas ao campo missionário; namoros cristãos e casamentos foram unidos pela convivência sadia dos jovens. Até hoje, pela graça, o Maanaim conta com centenas de acampantes em seus tradicionais e muito procurados eventos anuais.
Ademais, A Casa do Estudante Rural (CERAL) foi um braço educacional e social da Primeira Igreja. Em 1969, o Conselho decidiu comprar uma chácara para estabelecer uma granja e um local que pudesse receber filhos de colonos que viessem para a cidade estudar. Depois de anos, tendo alterado a realidade socioeconômica e a demanda não ser mais verificada, no mesmo local, plantou-se a Missão Vida Nova, em 1995, uma associação sem fins lucrativos, que se destina à recuperação de dependentes químicos. Centenas de pessoas foram atingidas pela comunicação do Evangelho no contexto dessa clínica de recuperação; e, até hoje, com estrutura construída e reformada para esse fim, a Casa de Apoio Missão Vida Nova dispõe vagas para atendimento de pessoas de toda a região.
Outro ministério muito tocante e frutífero, que tem o apoio e a participação de membros da Primeira Igreja, é a Creche Sinai – a primeira creche fundada na cidade de Machado – uma instituição que completa 50 anos! Irmãs da Igreja se dispuseram para a fundação e sustento desse ministério, cujo nome já aponta para sua finalidade: aproximar as crianças e suas famílias desse Deus que se revelou na Palavra. Inúmeros pequeninos foram tocados por uma formação séria e a comunicação da Palavra enquanto suas mães trabalhavam; muitas, inclusive, capacitadas pelos cursos ministrados na Creche.
Uma história marcada por plantação de Igrejas
Dentre as notáveis virtudes do ministério do Rev. Isaías Garcia Vieira e sua dileta esposa, Jane Caixeta Vieira, Pastor desta Igreja por mais de meio século, destaca-se a plantação de Igrejas com uma visão dada por Deus. Com gerência administrativa estratégica e com apoio de evangelistas, muitos deles leigos, a Primeira Igreja se posicionou nos avanços urbanos e rurais de Machado ao fincar, nos bairros nascentes, a presença evangélica referencial; semearam-se comunidades que, amadurecidas, se tornaram Igrejas emancipadas, com liderança própria e vibrante vitalidade no Evangelho. Sem dividir ou fraturar o Corpo de Cristo, por partidarismo ou dissensão, a Primeira Igreja se expandiu e, com participação ativa e direta, multiplicou-se.
A Igreja Sesquicentenária carrega em seu legado a plantação da 2ª, da 3ª, da 4ª Igreja de Machado, da Igreja do Maanaim, das congregações (5ª, 6ª e 8ª Igrejas); da Igreja de Alfenas, de Paraguaçu, de Serrania, de Pouso Alegre, de Carvalhópolis, além de participação em vários outros trabalhos na cidade e na região. De fato, “não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte”, assim também a luz do Evangelho brilhou na cidade e nas redondezas, fruto da evangelização e empenho estratégico desta comunidade.
Impossível encerrar num artigo os 150 anos!
Ecoam aqui as palavras do autor da carta aos Hebreus, “e que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir” aos vários ministérios que organicamente frutificaram nesta comunidade. Tem-se a Semana Jovem que completa sua 11ª edição em 2024, evento realizado sempre no fim de julho, que conta com o envolvimento de todas as Igrejas da região. Tem-se a Conferência da Fé Reformada, abrigada há 8 anos pelo Templo da Primeira Igreja, que tem sido uma importante voz do Presbitério Sul de Minas em prol da herança teológica bíblica. Tem-se o Grupo Ágape, trabalho evangelístico de décadas, às segundas-feiras, com inúmeros frutos para o Reino de Deus. Tem-se o Coral, um grupo longevo que com notas afinadas e harmônicas, abençoa nossa Igreja e a cidade. Têm-se as secretárias, que tão prontamente servem à comunidade, representadas pela Srtª. Ana Lúcia, que cooperou com a Igreja por 35 anos. Tem-se o ministério de música, que por décadas auxiliou, com muitos instrumentistas e cantores, o solene canto congregacional em louvor ao Senhor. Tem-se o ministério dos Gideões, com que a Igreja coopera desde 1987. Tem-se a Secretaria de Missões, que auxilia muitos missionários ao redor do mundo. Têm-se as reuniões de oração, as células, os encontros de mulheres, programas de rádio, transmissão online dos cultos, podcasts, estudos bíblicos de senhoras, momentos de partilha e de exposição do texto bíblico.
Têm-se, por fim, incontáveis irmãos que exprimem – em seus multiformes ministérios, muitas vezes anônimos aos olhos humanos ou “escapados” no registro de memórias institucionais – a graça de Deus que chama para serem discípulos de Cristo servos inúteis, nomeados aqui ou não; contudo, certamente, nenhuma boa obra será esquecida no Dia da Vitória, quando o próprio Senhor vai retribuir a cada um com eterno galardão.
No Éden, a serpente ousou descredibilizar a voz do Criador, seduziu os primeiros pais a desconfiar da infalibilidade, autoridade, suficiência e veracidade da Palavra de Deus. Ainda hoje, essa rebeldia nefasta e fatal ecoa em diversos contextos qual uma infiltração que sorrateira e tacitamente corrói a solidez da fé que, de uma vez, foi entregue à Igreja. A estratégia satânica, que já se travestiu de diversos conceitos na História da Redenção, modernamente, se colore de tons “liberais”, “progressistas”, “neo-ortodoxos”, “leituras subjetivas” e alguns outros “avanços” que se arvoram como “intelectuais” e capitulam a academia do fazer teológico e reflete nos púlpitos.
No passado, esse viés comprometido mais com ideologias do que com a herança bíblica contaminou instituições de ensino de denominações históricas e, com o tempo, minou as convicções reformadas, afundou antigos princípios e relativizou verdades absolutas. Tal tendência, assim como na primeira tentação, afasta as criaturas da presença de Deus: gerações foram capturadas, templos esvaziados, narrativas produzidas e a fé singela maculada.
A Primeira Igreja, historicamente, sempre se posicionou de maneira ferrenha, clara e ousada em defesa da Palavra de Deus. Ao passo que muitos, desde sempre, “estão indo de mal a pior, enganando e sendo enganados”; nossa comunidade resolveu, firmemente, “permanecer naquilo que aprendemos”, pois “sabemos de quem o aprendemos” (2Tm 3.13-15) e este legado não pode ser esfarelado. Valores que nos foram transmitidos pelas gerações passadas, a bem das memórias que ora resgatamos, não serão substituídos por devaneios e miragens que agradaram ouvidos contemporâneos.
Ecclesia reformata et semper reformanda est! Então, olhando adiante, seguiremos retornando às verdades indeléveis da Bíblia, perseverando nos caminhos da Palavra e avançando, com passo ritmado pela graça e misericórdia, em fidelidade ao Senhor Deus, à Igreja que deixaremos aos nossos filhos. Assim, oramos “àquele que é poderoso para nos guardar de tropeços e para nos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória” (Jd 1.24). Que Deus assim nos proteja, preserve e abençoe!
Após breves 150 anos de História, confirmamos, como Igreja, o texto bíblico: “Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu.“ (Js 21.45). Em tudo isso, seja apenas o Senhor glorificado, honrado, bendito, magnificado, adorado e exaltado. A Primeira Igreja de Machado rende graças ao Senhor Deus porque ele é bom, sua misericórdia dura para sempre, e de geração em geração a sua fidelidade.
Pela Coroa Real do Salvador,
Coram Deo.
Pr. Eduardo Bornelli de Castro